Tuesday, March 04, 2008




Eu tava relendo uns pedaços da entrevista e pra minha sorte as resposta do Cariello tiram atenção das minhas perguntas, haha.




Semana passada um editor me ofereceu um trabalho. Eu aceitei mas o cara acabou dizendo que estava entre eu e um outro cara, que queria que eu fizesse um teste.


Essas coisas sempre me fazem ficar nervoso na hora de desenhar e acabo tentando estrapolar, tento fazer algo que eu acredito que o outro cara nunca vai pensar.




O teste era criar um personagem (que poderia ser usado tanto como vilão quanto como herói) pra uma HQ com um determinado tema futurista e criar outros personagens baseados num conceito também futurista. Não tinha nenhum design nem nada. Era pra eu e o outro cara criarmos do nada. Eu recebi o e-mail por volta de 3 da manhã e tinha que ser entregue até as 8 da manhã.




Antes de sentar na prancheta fiquei querendo pensar, deitar na cama e refletir e toda essa viadagem. Mas eu desenho devagar pra caramba e acabei seguindo um conselho que o Cariello sempre me dava em toda aula. Sem frescura. Basicamente, sem frescura. Não dava pra querer fazer obra de arte (porque como ele mesmo diz, arte é uma cagada, sai, não é planejada). O máximo que eu podia fazer era o trabalho que me foi pedido dentro do prazo.




Então, na idéia de "ir além", criei o bichão aí com armadura e me meti a pintar porque eu tinha desenhado até rápido. Peguei umas tintas aquarelas da Pentel (é a única coisa que eu sei usar mais ou menos) e fiz. Quando acabei, eu odiei, mas não dava tempo de (e nem tinha como) arrumar. Eu acabei achando que o desenho só no lápis tava mais legal. Peguei outra folha e corri pra criar outros personagens. Como não tinha mais muito tempo (faltava uma hora e meia pro prazo vencer) eu desenhei uma "cena" pra apresentar os personagens principais e seus uniformes. Acabei em cima da hora e enquanto corria pro computador pra escanear, eu olhava as duas páginas epensando: "Tá uma merda, tá uma merda, arruma isso!" Mais uma vez, a frase do fessôr veio na cabeça e eu consegui relaxar.

Eu mandei e acabei pegando o trabalho (ontem à noite). Mais por ter cumprido o prazo do que pela qualidade (mas o design dos personagens vai ser alterado). Mas eu vou ter mais tempo pra fazer as páginas e aí eu tento compensar.
Acho que essa situação é um caso clássico que eu não saberia como enfrentar se não tivesse conhecido esse pessoal (desculpa pelos erros de anatomia e proporção aí, Roger =(
Ah, vou contar sobre o dia que conheci o Roger Cruz.
Eu chegava em São Paulo todas as sextas-feiras de manhã, por volta de 8 da manhã e ficava na porta da Quanta esperando o Weberson e a Vãnia chegarem. Eles chegavam e a gente ficava conversando a manhã toda e o dia todo. Foi a melhor coisa pra conhecer o pessoal e fazer amizade com alguns.
Mas na primeira sexta-feira que eu fui pra aula de anatomia, o Cariello chegou lá à tarde (pra pintar um trabalho, se não em engano). Depois que ele terminou esse trabalho, eu saí pra comprar alguma coisa pra comer, porque a aula do Roger ia começar em 1 hora e eu nem tinha almoçado. Eu já tava nervoso, porque a primeira revista que me deu aquela "coisa" de querer desenhar, foi uma revista do Roger, que ele desenhava o Nate Grey. Eu lembro que fiquei fascinado, na página de abertura era uma splash do Nate Grey e a Lamúria andando por uma praça. Eu copiei aquela página tantas vezes!
Enfim....
Fui ao restaurante atrás da Quanta e comprei um pacote de bolachas passatempo e uma lata de coca-cola. O Cariello me ouviu chegar na escola e começou a me gritar. Literalmente, gritar. Quando ele dava esses surtos, eu já me encolhia.
Eu fui chegando perto da cozinha (que era de onde os uivos tavam saindo) e ele veio no corredor dizendo: Veeem aqui!! Vou te apresentar pro seu novo professor! O Roger tá aqui.
Eu comecei a gaguejar e tremer.
"N-não! E-eu vejo ele na hora da aula!"
Entrei na cozinha arrastado e o Cariello me empurrava por trás. Me parou a um metro do Roger e disse. Bruno Oliveira, Roger Cruz. Roger Cruz, Bruno Oliveira.
E o Roger tava lá. Sentado na mesa, comendo. Igual a gente come também, sabe?
Ele me cumprimentou, pegando na minha mão. E eu lembro até hoje, exatamente o que pensei nesse segundo: ele tá me cumprimentando com a mão direita!! A mão que ele desenha!!!
A conversa não durou muito tempo, eu saí pra "arrumar umas coisas" (leia-se: limpar a obra feita nas calças).
Quando tava saindo, eu comecei a tremer mais do que já tava e derramei coca-cola perto do moço.
Pra minha sorte, ele e Cariello já estavam conversando empolgadamente e nem me notaram muito enquanto eu me abaixava pra limpar.
É, tô relendo e vi que é outra história em que eu pareço babaca, mas fazer o que. É o que é.
Valeu, gente!!

6 comments:

Gilberto Queiroz said...

Fala Bruno, blz?
Sempre passava por aqui (te linkei) e via que vc nunca mais havia postado. Talvez tivesse perdido a senha, desistido, sei lá. Hoje vi menção a vc no blog do Roger e resolvi entrar. Mt legal que tenha voltado a postar.
Tb fiz Quanta(de setembro de 2005 a agosto de 2006 - Quadrinhos, e um curso de férias - Pintura c/ Caribé) e sei o quanto aquele pessoal muda a vida dos alunos.
Parabéns por ter pego o trampo.
Passo mais X por aqui, ok?
Abraço,
Gilberto

Roger Cruz said...

Ahahah!!
Fala, Bruno!
Que engraçado, cara.
Cê escreve bem. Ritmo muito bom. Se começa a ler, não quer parar.
Agora, que história é essa?
ahah.
"Igual a gente come também??",
"Com a mão que ele desenha??"
Cê é um figura!
Mas é legal saber que o que eu faço aqui, entre uma refeição e outra(sim, eu como) e entre uma cagada e outra(sim, eu cago), influência pessoas com a mesma vontade que eu tinha de desenhar.
A história se repetindo.
No meu caso, os alvos de minhas especulações sobre comidas e cagadas eram Miller, Buscema, Laerte.
E eles cagam. O Laerte, acho que não.
Legal mesmo.
A ficha só cai quando leio esses depoimentos tão legais quanto o seu.
Valeu, continue escrevendo e parabéns pelo trabalho conquistado.

Roger

Pâmela de Moura Amaral Fanelli said...

Ola, muito empolganta sua historia, bem legal, eu to estudando na quanta tb to fazendo roteiro, da uma olhada la no meu blog, abracos...

Anonymous said...

Bruno, fui visitar o blog do Rogério, vi seu link e não pude deixar de ler.
Realmente você escreve bem demais e isso será útil na sua vida como profissional de HQ.
Esse lance de fã e de ídolo sempre me lembra uma história do Al Wilhañson e o Alex Raymond. Um desenhista da Paraíba contou algo semelhante a respeito dele visitar o Deodato, foi ai que eu lembrei.
Al Wilhanson conta numa entrevista que foi visitar Alex Raymond na mansão dele, nos anos 50. Ele era um garoto e o Alex era o grande deus das tiras diárias naqueles anos. Ele disse que foi recebido pelo mordomo, entrou calado, tremendo; o Alex desceu as escadas sorrindo para recebê-lo, e ele estava tão nervoso na presença do Alex que não pronunciou uma única palavra. Entrou mudo e saiu calado. Maior mico. Rsss.
Abraço.

Hendric Sueitt said...

"E o Roger tava lá. Sentado na mesa, comendo. Igual a gente come também, sabe?"

Ahuauhauaha.. poxa... caramba, como ri com isso...

Não conheço o Roger, mas admiro imensamente o trabalho dele, mas quanto ao Cariello eu tive o prazer de encontrar muitas vezes pela quanta, e como todos perceberam, realmente a gente não se mantém o mesmo após trocar idéias com algum desses caras.

Caí aqui do nada, mas curti bastante seu trampo, muito bom!!

BBrito said...

ótima história! adorei ler!
abçs
b.